domingo, junho 19, 2011

Como são as strippers virtuais?


Pessoal,

Matéria da revista Época São Paulo. Para ler e pensar...

Rafael* é casado. tem 39 anos, é engenheiro civil e, a cada 15 dias, viaja a trabalho. nessas ocasiões, costuma entrar na internet e procurar por Ana. Ele gosta de vê-la se despir, peça por peça, e saborear cada posição. A moça tem um jeito todo especial de tirar a roupa – e não mede esforços para atender aos pedidos de Rafael. Primeiro as meias, depois as luvas.

Ana não é sua amante. Também não trabalha como garota de programa. Os encontros acontecem sempre pelo MSN, e as imagens são captadas por uma webcam. A forma encontrada por Rafael para driblar o tédio das noites de hotel não poderia ser mais conveniente. “Não me exponho a doenças, envolvimentos emocionais ou prejuízos ao meu casamento”, diz o engenheiro. Em sua página na internet, a morena de curvas generosas diz ter 27 anos e atender das 10h às 13h, das 14h às 19h e das 20h à meia-noite, com disciplina de funcionário. Ali, a stripper virtual oferece aos clientes um vasto repertório de caras, bocas e gemidos – tudo, claro, depois de comprovar que o dinheiro entrou em sua conta.

A profissão surgiu na vida de Ana há seis anos. Estudante de psicologia, ela se divertia em chats provocando seus paqueras e amigos de amigos. “Ficar pelada para os outros era farra de moleca”, diz a paulistana, que, até então, não cobrava pelos shows. “Hoje, sou uma empresa: preciso inovar nos pacotes e divulgá-los”. Por R$ 15, o voyeur assiste a um strip de 20 minutos com direito a “masturbação ­light”. Pelo dobro do valor, Ana mostra o rosto e chega às vias de fato com um vibrador. Se o áudio estiver ligado, meia hora de exibicionismo – turbinado com sussurros e gemidos – custa R$ 80. O menu inclui ainda uma apresentação em dupla com uma amiga “liberal” e preço sob consulta.

Cerca de 25% dos internautas frequentam páginas eróticas, segundo pesquisa da Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana. Desde que surgiu a troca de textos e imagens em tempo real, os camshows se multiplicaram no mundo inteiro. Sites americanos e europeus foram pioneiros em montar estúdios profissionais nos quais mulheres se expunham para aumentar a renda. Nos Estados Unidos, a proibição da prostituição sempre foi mais rígida que no Brasil, de modo que fazer sexo (virtual) com uma desconhecida, no conforto de casa e sob a proteção da tela, virou a alternativa perfeita para realizar fantasias sem o risco de ser flagrado pela polícia ou pela mulher.

Em São Paulo, a atividade cresceu com a evolução do acesso à web de banda larga. Escritórios clandestinos, ainda comuns no Itaim Bibi e na Vila Olímpia, começaram a surgir há pouco mais de dez anos. Funcionavam como sucursais de sites estrangeiros, cooptando beldades brasileiras. Bella chegou a um deles em 2001, por meio dos classificados de um jornal: “Procura-se jovem para trabalhar com vendas na internet”. Bancária desempregada, divorciada e com dois filhos, a loira descobriu na entrevista de emprego que sua função seria comercializar a própria imagem – e não exatamente como garota-propaganda. Instaladas em cubículos individuais de um metro quadrado, trinta garotas se revezavam em três turnos. A missão de Bella, que batia ponto no período da tarde por um salário fixo de R$ 1 mil por mês, era adiar a nudez a fim de fidelizar o cliente: quanto mais tempo ele ficasse no chat, pagando US$ 3 por minuto na expectativa de vê-la sem calcinha, maior o lucro de seu agenciador.

Desde 2002, Bella trabalha em casa. Ela diz que no início, enquanto as crianças estavam na escola ou dormiam, chegou a faturar R$ 25 mil por mês, rebolando e gemendo no quarto ao lado. “A relação dólar-real era de três para um”, diz. Hoje, Bella ganha R$ 6 mil com a atividade – e complementa a renda com aulas de inglês. Os filhos, de 13 e 15 anos, sabem da atividade paralela da mãe, mas não conhecem seu codinome nem seu site. Nele, a stripper de 37 anos vende pacotes de dez a 45 minutos. Seu maior público ainda é dos EUA – e cada cliente paga de US$ 30 a US$ 100 para vê-la. “Eles interagem, mostram o rosto, pedem posições e até perguntam como vai a família”, diz. No apartamento de Bella, não há cenários ou luzes especiais. “Eles gostam dessa coisa caseira, amadora. Preferem uma mulher acessível, que se pareça com uma vizinha”, afirma.

Os clientes costumam ser casados, de classe média alta, e ter entre 25 e 45 anos. “Eles querem a atenção de uma mulher gostosa que realize seus pedidos, levante seu ego e até converse sobre problemas conjugais”, diz Alex*, fundador do site AsBelas. Nele, 64 garotas de diversas regiões do país se exibem de suas casas e se alternam em turnos para que haja sempre ­strippers à disposição. O movimento cresce na hora do almoço (quando pinta um tempinho ocioso) e tarde da noite (quando a família do cliente já está dormindo). Pelo “suporte técnico”, o agenciador diz recolher 20% do faturamento de cada garota. Nádia, uma ex-integrante desse elenco, afirma que a comissão era bem maior: de cada show vendido por R$ 25, apenas R$ 10 iam para ela. “Eles prometem dezenas de shows por dia e até R$ 4 mil por mês, mas é tudo ilusão”, diz Nádia.

Aos 31 anos, ela foi convencida pelo marido a se desligar do grupo e criar o próprio site – ele mesmo se dispôs a cuidar da parte burocrática do negócio. A mudança fez aumentar a renda e livrou a stripper da eventualidade de um possível problema com a lei. Isso porque, atuando no site AsBelas, a moça poderia se surpreender a qualquer momento com a prisão do chefe, sob a acusação de exploração sexual. Segundo o advogado Coriolano ­Camargo, membro da Comissão de Crimes Cibernéticos da OAB, agenciadores podem ser condenados ainda que atuem no ambiente virtual. Talvez por isso nenhum porta-voz do DreamCam, o mais famoso site brasileiro do ramo, tenha se disposto a atender à reportagem de Época SÃO PAULO. “Além de lucrar com as assinaturas, os sites vendem espaços para anúncio”, diz Evaldo Shiroma, organizador da Érotika Fair e vice-presidente da Associação Brasileira de Empresas do Mercado Erótico e Sensual.

Nádia, que é mãe de duas crianças e trabalha também como professora infantil, acredita que, em pouco tempo, terá juntado dinheiro suficiente para se desfazer das fantasias de coelhinha e empregada doméstica. Seu desejo é apenas lecionar. Despidas de qualquer peso na consciência, Bella e Ana vislumbram outro futuro. Para a primeira, a atividade deu boa condição financeira sem que ela precise responder a um superior. “Ninguém paga minhas contas, então não me importo com o que pensam”, diz, sem prazo para parar. Ana, a jovem que começou tirando a roupa por “farra de moleca”, pretende se tornar ainda mais famosa. “Quero ensinar o que sei a outras garotas”, diz. Se depender delas, os clientes continuarão felizes da vida, entre um corpete aberto e uma calcinha abaixada. E as mulheres, bem, elas seguirão sem saber por que seus maridos não desgrudam do computador.

* os nomes assinalados foram trocados a pedido dos entrevistados


Sérgio

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