Pessoal,
A Páscoa está aí. Ela é muito mais que um (sensacional) feriado. Há um significado que passa sem ser lembrado por muitas pessoas. Não falo de deixar de comer isso, penitenciar-se naquilo (veja reportagem do
G1 abaixo),
esse sentido religioso de que devemos sofrer para reverenciar Deus não me convence. Respeito, mas não pratico. Peixe é ser vivo tanto quanto o gado. Enfim,
penso na Páscoa como reflexão. Todos nós temos como melhorar (e muito). Uso este tempo para rever minha atitudes e tentar corrigir os caminhos que escolhi e sigo escolhendo, dia-a-dia. É isso que desejo à você: paz para rever você mesmo e se entender, encontrar equilíbrio e ver o caminho à frente. Feliz Páscoa!!!
Na Quaresma, fiéis evitam carne vermelha, doces e até conversa
Sexta-Feira Santa é, por tradição, o dia de não comer carne vermelha. Mesmo aqueles menos apegados à religião católica trocam o bife por um peixe. Mas se comer um bom prato de bacalhau não é exatamente uma penitência, como sugere a Igreja Católica, alguns cristãos mantém tradições ainda mais antigas e se privam de prazeres durante toda a Quaresma. Além da carne vermelha, há quem renuncie a doces, refrigerantes, álcool e até a conversa com os amigos durante parte do dia. Eliana Maria Silva, de 34 anos, membro da comunidade Canção Nova em Cachoeira Paulista (SP), escolheu diferentes tipos de sacrifícios para a Páscoa. “Nesse tempo, a gente faz memória aos 40 dias que Jesus passou no deserto jejuando, como preparação para a Páscoa. Cada um escolhe livremente o que faz. Eu escolhi me abster de doces e refrigerantes, justamente porque eles não fazem falta na alimentação, apenas me dão prazer”, explica. Nas quartas e sextas-feiras da Quaresma, Eliana deixa ainda de comer carne. E, neste ano, ela incluiu outro tipo de “jejum” neste período. “Moro com oito mulheres. Começamos a pensar em um jejum coletivo, aí uma sugeriu ficarmos em silêncio”, conta. A partir das 22h, na Quaresma, nenhuma delas fala sequer uma palavra na casa. Além do veto à conversa, elas também deixam de assistir à televisão e ouvir música a partir desse horário.
“Acaba sendo mais um tempo voltado à oração, à interiorização. Eu vi que foi muito bom para a minha vida pessoal. Também passei a valorizar mais nossa convivência”, analisa Eliana. Acostumada a comer carne vermelha todos os dias, a paulistana Tatiana Mura, de 36 anos, tirou o bife mal passado do cardápio da Quaresma há alguns anos. "Durante o resto do ano, eu como carne todos os dias, sou muito carnívora. E gosto bem vermelhinha", conta Tatiana, que trabalha como corretora. Casada com Marcelo, um argentino que é fã de carne, nesta época ela prepara pratos à base de peixes, legumes e queijos para o casal e de carne para os dois filhos, Pietro, de 10 anos, e Giancarlo, de 17. “A religião não pode ser uma imposição. Se depois eles quiserem fazer algum jejum, vai ser por decisão deles”, diz. Para Tatiana, a renúncia à carne vermelha na Quaresma é “uma questão de respeito” à fé cristã. "Penso muito no que aconteceu com Jesus. Ele sofreu tanto que o que você passa é mínimo. Nem encaro como uma penitência, mas como uma devoção”, resume.
Na mesma linha da privação de alimentos, o advogado Ricardo Gaiotti, de 28 anos, elege diariamente algo para tirar da dieta. “Hoje no almoço, por exemplo, tinha arroz de leite de sobremesa. Como bom mineiro, adoro arroz de leite. Então, não comi”, conta. Em outros dias, a renúncia pode ser a carne, bebida ou doce – depende do chamar a atenção do integrante da Canção Nova em cada refeição. Ricardo e seus colegas de casa fizeram ainda uma grande arrumação nos armários e separaram roupas e calçados para doação. “Também renunciei um pouco às notícias do dia a dia. Evitei ficar olhando todos os jornais com as mesmas informações para saciar a curiosidade de detalhes desimportantes”, conta Ricardo, que aumentou os momentos de oração e silêncio durante o período. O padre Rui Melati Alexandrino da Silva, vigário da paróquia da Nossa Senhora da Consolação, em São Paulo, explica que, para os cristãos, a Quaresma é um período de busca dos valores da religião, de aprimoramento moral e de oração. "Durante a Quaresma, o cristão pratica a oração, o jejum e a caridade. O jejum é uma busca do autodomínio e da comunhão com os sofredores do mundo, para uma nova consciência sobre a realidade social", diz.
De acordo com o padre, no primeiro milênio os cristãos costumavam passar a Quaresma a pão e água, e a alimentação só era permitida até o pôr do sol. Hoje, a orientação sobre o consumo da carne vermelha é apenas para a Quarta-Feira de Cinzas, quando começa a Quaresma, e para a Sexta-Feira Santa, quando termina. "A lei canônica fala da obrigação da abstinência de carne entre os 14 e os 60 anos, no primeiro e no último dia da Quaresma. Em todas as sextas-feiras desse período, é recomendada a penitência". Ele diz ainda que a renúncia à carne pode ser trocada por outro tipo de jejum ou sacrifício. "Cada um escolhe como vai viver o jejum. Também pode ser trocado por um ato de caridade ou de penitência", afirma. O que é "lamentável" para a Igreja, diz o vigário, é transformar o jejum de carne vermelha em um banquete de peixes caros. "É lamentável que as pessoas esbanjem em um dia em que deveriam estar voltadas à reflexão do sentido da vida, do sofrimento".
Sérgio