Hoje teremos uma
Lua Azul. Sabe o quê é isso? Então leia esta explicação do blog
Observatório de
Cassio Del Ri Barbosa. Curtindo a explicação ou não, não deixe de curtir a lua...
Quem costuma fuçar os calendários durante o ano – no meu caso, atrás dos feriados – deve ter notado que o mês de agosto terá duas Luas cheias. A primeira foi logo no dia 2 e a segunda vai ser no dia 31. Esta segunda Lua cheia em um mês é chamada de “Lua azul”. Mas por quê? A expressão “Lua azul” tem sido usada há pelo menos 400 anos, mas não como sendo a segunda Lua cheia do mês. Este significado nasceu de um erro ocorrido em 1946 e se tornou popular nos últimos 20 anos. Já vi muita gente graúda dizendo que este hábito remonta aos fenícios ou egípcios, mas é pura bobagem. No século 16, dizer que a Lua era azul significava exprimir algum tipo de exagero. Dizia-se: “fulano é tão desligado que diria que a Lua é azul!” Esse conceito levou a outra expressão que indicava uma probabilidade bem remota de algo acontecer. Por exemplo, no século 18, dizia-se: “eu pagarei minha dívida com você quando a Lua estiver azul”.
Apesar de parecer muito estranho, já houve algumas vezes em que a Lua realmente se tornou azul no céu. Em 1883, quando o vulcão Krakatoa explodiu na Indonésia, a atmosfera ficou carregada por partículas de poeira que fizeram o pôr do Sol ficar esverdeado e deixaram a Lua azul no mundo todo por quase dois anos. Sempre que há uma grande quantidade de poeira na atmosfera, esse efeito se repete. Foi assim em 1927, na Índia, quando uma tempestade depois de uma enorme seca levantou toneladas de poeira na atmosfera. Ou em 1951, quando um enorme incêndio florestal no Canadá lançou uma quantidade de cinzas que deixou a Lua azul. Em tempos mais modernos a expressão Lua azul se tornou um sinônimo de coisa rara, mas também de tristeza. Várias músicas usam esta expressão para associar tristeza e solidão, basta checar algumas músicas de Elvis Presley.
Já no final dos anos 1980, nos EUA, a expressão “Lua azul” se tornou moda. Foi uma febre que deu nome a milhares de restaurantes e mostras de arte no país. Quem for do meu tempo vai se lembrar daquela série de TV com a Cybill Shepherd e o Bruce Willis em começo de carreira, que no Brasil se chamava “A Gata e o Rato”. Eles tinham uma agência de investigação particular que se chamava “Blue Moon” (literalmente, “Lua azul”) e o nome original da série era “Moonlighting” (expressão que significa “segundo emprego” e faz um trocadilho com a palavra “luar”). Já a partir desta época, Lua azul também significava uma segunda Lua cheia em um mesmo mês. Mas nem sempre foi assim.
Esse é um daqueles casos em que uma definição nasce de um erro. A definição de Lua azul aparece em um livro chamado “Almanaque do Fazendeiro do Maine” nas edições anuais entre 1819 e 1962. Em nenhum destes exemplares a definição é esta que conhecemos. A definição que aparece neste almanaque é bem diferente e tem mais a ver com as estações do ano, do que com os meses. É assim: “Em primeiro lugar considera-se o ano tropical, aquele que começa em um solstício de inverno (mais ou menos no dia 21 de dezembro para o Hemisfério Norte) e vai até o solstício de inverno seguinte. A maioria dos anos tropicais consegue conter 12 Luas cheias, três em cada estação do ano. Cada uma delas tem um nome específico para a atividade humana da época. Ocasionalmente, temos um ano tropical com 13 Luas cheias, o que significa que uma das estações do ano deverá ter quatro delas, ao invés de três. Nesta estação com quatro Luas cheias, a terceira a acontecer é chamada de Lua azul”, diz o almanaque.
Essa definição começou a se moldar em julho de 1943 em uma coluna de perguntas e respostas da revista Sky & Telescope nos EUA. Laurence J. Lafleur citou o fato de ocasionalmente haver 13 Luas cheias em um ano, mas não disse que se tratava de um ano tropical. Ainda assim, ele não falou nada de duas Luas cheias em um mesmo mês. Mas a vaca foi para o brejo mesmo em março de 1946. Na página 3 da edição deste mês, James Pruett, um astrônomo amador que escrevia costumeiramente para a revista, em um especial sobre meteoros, resolveu falar sobre Luas azuis. Ele repetiu uma conclusão do tal almanaque, que dizia que: “Em 19 anos, sete vezes aconteceu (e ainda acontece) de haver 13 Luas cheias em um ano. Isto dá 11 meses com uma Lua cheia em cada um e um mês com duas”. Mas concluiu erroneamente: “esta segunda Lua cheia do mês, assim eu interpreto, foi chamada de Lua azul.”
Talvez por ser mais fácil de se entender, a própria revista encampou esta nova definição e passou a tratar a Lua azul desta maneira em suas páginas. Na década de 1980, a onda se espalhou e agora não tem mais volta. Isto não é uma coisa ruim de todo, quantas pessoas aí não acharam que o novo milênio começava em primeiro de janeiro de 2000? Este erro tem sim implicações mais práticas do que confundir uma Lua cheia. Entretanto, uma diferença fundamental pode ser notada das definições. Pelo almanaque, uma Lua azul pode ocorrer em qualquer mês do ano, basta ser a terceira Lua cheia da estação. Pela definição da revista, não é possível que ocorra uma Lua azul em fevereiro e os meses de 31 dias são os mais prováveis de ter uma Lua azul. Isto porque o intervalo de tempo entre duas Luas cheias consecutivas – uma lunação – é de 29 dias – e uns quebrados. Como fevereiro não pode ter mais que 29 dias, não tem jeito.
A Lua azul deste dia 31 de agosto é muito especial. Ela vai acontecer no mesmo dia do enterro de Neil Armstrong, o primeiro ser humano a dar o primeiro passo na Lua – com o pé esquerdo. Será uma boa oportunidade para render uma homenagem a ele. Basta se lembrar de ver a Lua cheia azul, lembrar-se de Armstrong e dar uma piscadela.
Sérgio