Pessoal,
Leiam, é inacreditável... O texto é de um comandante da Delta Air Lines que estava em aproximação para Tóquio durante o terremoto, em um Boeing 767-400. O texto foi escrito no mesmo dia 11 de março. Reproduzo também o texto original. Não sei se é verdadeiro, mas veio de uma fonte séria e faz sentido.
Nesse momento ainda estou inteiro, escrevendo do meu quarto no hotel da tripulação. São 08:00. Esta é minha viagem trans-pacífica inaugural como recém-checado comandante internacional de 767 e até o momento está sendo interessante, para dizer o minimo. Eu já cruzei o Atlântico três vezes até agora, de forma que os procedimentos oceânicos já me são familiares.
Diga-se de passagem, é deslumbrante voar sobre as Ilhas Aleutas.
Tudo estava indo bem, até 100 milhas fora de Tóquio, na descida para a chegada.
A primeira indicação de problema foi o controle Japones começar a colocar todos os vôos em órbitas de espera.
Inicialmente pensamos que era o habitual congestionamento da chegada. Então recebemos do despacho da empresa, via link de dados, uma mensagem avisando sobre o terremoto, seguida por outra avisando que o aeroporto de Narita estava fechado temporariamente para inspeção e deveria ser reaberto em breve (a empresa é sempre tão otimista).
Do nosso ponto de vista, as coisas estavam, obviamente, um tanto diferentes. O nível de ansiedade do controlador japonês parecia bastante elevado, quando nos comunicou que o tempo de espera era "indefinido". Como ninguém se comprometia com relação a um período de tempo mais preciso, pedi a meu co-piloto e relief-pilot que procurassem alternativas viáveis e analizassem nossa situação de combustível, que, após uma travessia oceânica é normalmente baixo.
Não demorou muito, talvez dez minutos e os primeiros pilotos começaram a alternar para outros aeroportos. Air Canada, American, United, etc todos reportando "combustível mínimo".
Eu ainda tinha combustível suficiente para 1,5 a 2,0 horas de espera. Desnecessário dizer que os vôos alternando logo complicaram a situação.
O controle de tráfego aéreo japonês, em seguida, anunciou Narita fechado por tempo indeterminado, devido à danos.
Os vôos começaram então a solicitar pouso em Haneda, perto de Tóquio. Meia dúzia de JALs e alguns voos ocidentais obtiveram autorização nesse sentido, mas em seguida o controle avisou que Haneda tinha acabado de fechar. Oh-oh!
Agora, em vez de apenas esperas, todos tivemos que começar a considerar alternativas mais distantes, como Osaka, ou Nagoya.
O que é ruim sobre um avião grande é que você não pode apenas decidir pousar em qualquer aeroporto pequeno.
Em geral, é necessária muita pista. Com mais e mais voos se empilhando tanto a leste como a oeste, todos precisando de um lugar para pousar e várias situações de combustível crítico, o controle de tráfego aéreo estava começando a se debater. Na luta, sem esperar meu combustível ficar crítico, obtive autorização para Nagoya, com a situação de combustível ainda boa. Até aí tudo bem. Após alguns minutos nessa direção, fomos "ordenados" pelo controle para inverter curso.
Nagoya estava saturada com tráfego e incapaz de lidar com mais aviões (leia-se aeroporto lotado). Idem para Osaka.
Com essa declaração, nosso combustível passou instantaneamente de bom para mínimo, considerando que poderíamos ter que fazer um desvio muito mais longo. Multiplique nossa situação por uma dúzia de aeronaves todas no mesmo barco, todas fazendo exigências e ameaças ao contrôle para alternar em algum lugar.
Um Air Canada e depois outro foram para "emergencia" de combustível. Aviões começaram a pousar em bases da força aérea.
A mais próxima a Tóquio era Yokoda AFB. Entrei nessa também, inicialmente. A resposta - Yokoda fechada! Não há mais espaço.
A essa altura o cockpit se transformou em um Circo de tres picadeiros: meu co-piloto nos rádios, eu voando e tomando decisões e o relief-pilot enterrado nas cartas aéreas tentando achar um lugar para onde ir, que estivesse dentro do alcance, enquanto mensagens voavam pelo link de dados entre nós e o despacho da empresa em Atlanta. Escolhemos Misawa AFB na extremidade norte da ilha de Honshu. Podíamos chegar lá com combustível mínimo ainda restante. O Controle, feliz por se livrar de mais um, nos autorizou a sair do turbilhão da região de Tóquio. Ouvimos o contrôle tentar enviar vôos para Sendai, um pequeno aeroporto regional no litoral que mais tarde, me parece, foi inundado por um tsunami.
O despacho em Atlanta, a seguir, nos enviou uma mensagem perguntando se poderíamos continuar até o aeroporto de Chitose, na ilha de Hokkaido, no norte de Honshu. Outros aviões da Delta estavam sendo mandados para lá. Mais correria no cockpit - Checar meteoro, checar as cartas, checar combustível, tudo bem. Poderiamos fazê-lo sem entrar em uma situação crítica de combustível... desde que não tivéssemos outro atraso. Quando nos aproximamos de Misawa obtivemos autorização para continuar a Chitose.
Processo de tomada de decisão crítica. Vamos ver - tentando ajudar a empresa - aeronave sobrevoa alternativa perfeitamente boa em favor de uma mais distante... queria saber como isso iria parecer no relatório de segurança, se algo desse errado.
De repente o controle nos dá um vetor para uma posição bem antes de Chitose e nos diz para aguardar instruções de espera. Pesadelo realizado. A situação deteriora-se rapidamente. Depois de uma espera inicial perto de Tóquio, iniciar um desvio para Nagoya e inverter o curso de volta a Tóquio, em seguida, voltar a desviar para o norte até Misawa, toda nossa feliz reserva de combustível agora se evaporava rápidamente. Minha transmissão seguinte, parafraseado claro, foi mais ou menos assim:
"Controle Sapparo - Delta XX solicita liberação imediata direto Chitose, combustível mínimo, impossibilitado de efetuar espera."
"Negativo-Ghost Rider, o tráfego está lotado" (citação do filme Top Gun)
"Controle, correção, Delta XX declarando emergência de combustível, prosseguirá direto Chitose."
"Roger Delta XX, entendido, você está liberado direto Chitose, contate agora o controle Chitose .... etc ..."
Decidi dar um basta e me antecipar, antes de ficar com o combustível criticamente baixo em outra órbita por tempo indeterminado, principalmente após haver ignorado Misawa, jogando assim minha última cartada ... declarando uma emergência. O inconveniente é que agora eu teria uma papelada da empresa para preencher, mas... e daí.
Dessa forma - desembarcamos em Chitose com segurança, com pelo menos 30 minutos de combustível restante antes de atingir uma "verdadeira" situação de emergência de combustível. É sempre um bom sentimento, estar seguro. Eles nos taxiaram para uma área remota do estacionamento, onde cortamos e assistimos uma meia dúzia ou mais de aeronaves chegando em fila. No final, da Delta haviam dois 747, nosso 767 mais um outro e um 777 todos no pátio em Chitose. Vimos também dois aviões da American Airlines, um United e dois Air Canada.
Para não falar dos muitos aviões da Al Nippon e Japan Air Lines.
PS - Nove horas depois, a JAL finalmente conseguiu trazer uma escada até nosso avião e fomos capazes de desembarcar e fazer alfândega. - Que no entanto, é outra história interessante.
Por falar nisso - enquanto escrevo esta - senti quatro tremores adicionais que abalaram o hotel um pouco - tudo em 45 minutos.
Lembranças, J.D.
Versão original, em inglês:
"I'm currently still in one piece, writing from my room in the Narita crew hotel. It's 8am. This is my inaugural trans-pacific trip as a brand new, recently checked out, international 767 Captain and it has been interesting, to say the least, so far. I've crossed the Atlantic three times so far so the ocean crossing procedures were familiar.
By the way, stunning scenery flying over the Aleutian Islands. Everything was going fine until 100 miles out from Tokyo and in the descent for arrival. The first indication of any trouble was that Japan air traffic control started putting everyone into holding patterns. At first we thought it was usual congestion on arrival. Then we got a company data link message advising about the earthquake, followed by another stating Narita airport was temporarily closed for inspection and expected to open shortly (the company is always so positive).
From our perspective things were obviously looking a little different. The Japanese controller's anxiety level seemed quite high and he said expect "indefinite" holding time. No one would commit to a time frame on that so I got my copilot and relief pilot busy looking at divert stations and our fuel situation, which, after an ocean crossing is typically low.
It wasn't long, maybe ten minutes, before the first pilots started requesting diversions to other airports. Air Canada, American, United, etc. all reporting minimal fuel situations. I still had enough fuel for 1.5 to 2.0 hours of holding. Needless to say, the diverts started complicating the situation.
Japan air traffic control then announced Narita was closed indefinitely due to damage. Planes immediately started requesting arrivals into Haneada, near Tokyo, a half dozen JAL and western planes got clearance in that direction but then ATC announced Haenada had just closed. Uh oh! Now instead of just holding, we all had to start looking at more distant alternatives like Osaka, or Nagoya.
One bad thing about a large airliner is that you can't just be-pop into any little airport. We generally need lots of runway. With more planes piling in from both east and west, all needing a place to land and several now fuel critical ATC was getting over-whelmed. In the scramble, and without waiting for my fuel to get critical, I got my flight a clearance to head for Nagoya, fuel situation still okay. So far so good. A few minutes into heading that way, I was"ordered" by ATC to reverse course. Nagoya was saturated with traffic and unable to handle more planes (read- airport full). Ditto for Osaka.
With that statement, my situation went instantly from fuel okay, to fuel minimal considering we might have to divert a much farther distance. Multiply my situation by a dozen other aircraft all in the same boat, all making demands requests and threats to ATC for clearances somewhere. Air Canada and then someone else went to "emergency" fuel situation. Planes started to heading for air force bases. The nearest to Tokyo was Yokoda AFB. I threw my hat in the ring for that initially. The answer - Yokoda closed! no more space.
By now it was a three ring circus in the cockpit, my copilot on the radios, me flying and making decisions and the relief copilot buried in the air charts trying to figure out where to go that was within range while data link messages were flying back and forth between us and company dispatch in Atlanta. I picked Misawa AFB at the north end of Honshu island. We could get there with minimal fuel remaining. ATC was happy to get rid of us so we cleared out of the maelstrom of the Tokyo region. We heard ATC try to send planes toward Sendai, a small regional airport on the coast which was later the one I think that got flooded by a tsunami.
Atlanta dispatch then sent us a message asking if we could continue to Chitose airport on the Island of Hokkaido, north of Honshu. Other Delta planes were heading that way. More scrambling in the cockpit - check weather, check charts, check fuel, okay. We could still make it and not be going into a fuel critical situation ... if we had no other fuel delays. As we approached Misawa we got clearance to continue to Chitose. Critical decision thought process. Let's see - trying to help company - plane overflies perfectly good divert airport for one farther away...wonder how that will look in the safety report, if anything goes wrong.
Suddenly ATC comes up and gives us a vector to a fix well short of Chitose and tells us to standby for holding instructions. Nightmare realized. Situation rapidly deteriorating. After initially holding near Tokyo, starting a divert to Nagoya, reversing course back to Tokyo then to re-diverting north toward Misawa, all that happy fuel reserve that I had was vaporizing fast. My subsequent conversation, paraphrased of course...., went something like this:
"Sapparo Control - Delta XX requesting immediate clearance direct to Chitose, minimum fuel, unable hold."
"Negative Ghost-Rider, the Pattern is full" <<< top gun quote <<<
"Sapparo Control - make that - Delta XX declaring emergency, low fuel, proceeding direct Chitose"
"Roger Delta XX, understood, you are cleared direct to Chitose, contact Chitose approach....etc...."
Enough was enough, I had decided to preempt actually running critically low on fuel while in another indefinite holding pattern, especially after bypassing Misawa, and played my last ace...declaring an emergency. The problem with that is now I have a bit of company paperwork to do but what the heck.
As it was - landed Chitose, safe, with at least 30 minutes of fuel remaining before reaching a "true" fuel emergency situation. That's always a good feeling, being safe. They taxied us off to some remote parking area where we shut down and watched a half dozen or more other airplanes come streaming in. In the end, Delta had two 747s, my 767 and another 767 and a 777 all on the ramp at Chitose. We saw to American airlines planes, a United and two Air Canada as well. Not to mention several extra Al Nippon and Japan Air Lines planes.
Post-script - 9 hours later, Japan air lines finally got around to getting a boarding ladder to the plane where we were able to get off and clear customs. - that however, is another interesting story.
By the way - while writing this - I have felt four additional tremors that shook the hotel slightly - all in 45 minutes.
Cheers, J.D."
Sérgio