domingo, março 18, 2012

Boas maneiras


Matéria da Revista Época que está nas bancas. Acho interessantíssima, especialmente por, no Brasil, vivermos uma crise de educação e boas maneiras. As pessoas são ultra individualistas e só possuem direito. Ninguém se sente mais obrigado a nada... Um horror. A reportagem tem mais texto do que o extrato abaixo, mas é só para assinantes.

“Boas maneiras são mais importantes do que leis”, dizia o escritor irlandês Edmund Burke (1729-1797). Outro pensador, o inglês Thomas Hobbes (1588-1679), escreveu em sua obra mais famosa, Leviatã: “A importância das boas maneiras não está no jeito certo de saudar o outro ou limpar os dentes, mas no fato de possibilitar que os homens vivam juntos e em paz”. Eles não exageravam – e a época atual, de certa forma, dá razão a ambos. Só nos Estados Unidos, é possível encontrar mais de 150 livros de etiqueta numa livraria comum. No Brasil, 60. Esses livros atendem a uma necessidade social concreta – facilitar a convivência – presente hoje tanto quanto no tempo de Burke ou Hobbes. Eles também atacam um problema que tem um efeito desgraçadamente cumulativo. Uma grosseria em casa ou no trabalho estraga o dia e pode ter consequências maiores do que um simples desassossego. Montes delas resultam, no longo prazo, em brigas familiares, divórcios, crises, demissões. A falta de boas maneiras, além de contratempos, pode diminuir dramaticamente nossas chances de sucesso e felicidade.

Por isso, os manuais de etiqueta se tornam frequentemente best-sellers. A má notícia é que eles não são suficientes. A complexidade da vida moderna é tamanha que regras concisas não dão conta – gafes, vexames e micos estão sempre à espreita. Novos arranjos familiares e a vida íntima cada vez mais exposta na internet põem na berlinda as nossas referências de convivência. O que fazer quando um amigo publica no Facebook uma foto em que você aparece de sunga ou biquíni? Na era das redes sociais, em que todos sabem de todos, como montar uma reunião para um grupo de amigos sem magoar aqueles que você não poderá chamar?

O jornalista americano Henry Alford, que escreve sobre boas maneiras para títulos de prestígio como a revista Vanity Fair ou o jornal The New York Times, encontrou uma forma brilhante de tratar o assunto. Na impossibilidade de estabelecer regras claras de convivência, a saída é buscar a essência delas: cultivar a gentileza no trato com o outro, por meio do respeito e do afeto. É esse princípio que norteia a obra que, recém-chegada às livrarias americanas, promete uma revolução a respeito do tema: Would it kill you to stop doing that? (Você morreria se parasse de fazer isso?), ainda sem data para ser lançada no Brasil.

A obra de Alford vem tendo bom desempenho em vendas e resenhas positivas. Isso ocorre principalmente por três razões. A primeira é evitar o clichê dos livros de etiqueta, em geral listas de conselhos que podem ser bastante maçantes. Em vez disso, os capítulos adotam uma dicção bem-humorada, num estilo que o autor aprimorou ao escrever para jornais e revistas. O segundo é a pesquisa feita por ele nos Estados Unidos, país onde vive, e no Japão, que ele considera uma referência mundial em boas maneiras. O levantamento recheia o texto de histórias interessantes. O terceiro – e mais importante – é a solidez das ideias, que se constroem a partir de um princípio basilar: para ter boas maneiras, o mais importante é o estímulo por trás da atitude. É uma questão, basicamente, de ser capaz de se colocar no lugar do outro e de se importar com ele. “Quando temos esse estado de espírito, nossa interação acontece naturalmente de forma gentil”, disse Alford a ÉPOCA. Ele reconhece, no entanto, que a gentileza não é um estado natural para a maioria de nós. É uma construção, que exige calibragem constante. “Vale o esforço. Mudamos nossa percepção sobre as pessoas, para melhor.”

Sérgio

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