terça-feira, julho 29, 2008

Novo dia... Mude!


Novo dia...

Engraçado como a gente se sente bem no começo do dia, não é mesmo? Difícil é manter essa disposição pelas demais horas, especialmente quando voltamos para casa depois do trabalho, já escuro, de noite. De manhã juramos mudança, fazemos projetos e dizemos: eu vou fazer e acontecer. Aí vem o dia e nos atropela. Esse, na minha opinião, é nosso erro enquanto humanidade hoje em dia. O dia (produtivo) de qualquer de nós é muito mais cheio de compromissos do que era o do mais ocupado dos homens há 100 anos... Com esta quantidade de coisas a fazer, como pensar? Como sentir? Como, realmente, viver? Nossa vida se confina nas noites, nas duas ou três horas antes que o sono nos ataque? Ou nos finais de semana? Vidas suspensas esperando o dia de "viver" para si e não para uma empresa, uma faculdade, o mundo.

É muito fácil dizer "sou assim" ou "as coisas são assim, sempre foram"... Se tivessemos mesmo de fazer tudo igual, não haveria evolução possível, como pessoas e como espíritos. Até onde essas fugas são válidas? Não critico ninguém aqui... Faço isso também. Ousar, crescer, evoluir, mudar enfim, não é fácil. Exige compromisso, exige esforço, mas antes disso, exige vontade. E com tantas coisas a fazer para que seja possível existir, como pagar contas, trabalhar, estudar, ter vontade de "crescer" como ser humano não pode mesmo ser prioridade. Além disso, consumir, ira trás da última moda, falar da novela que todo mundo vê ou da mais recente fofoca que todo mundo fala é mais fácil. A mídia sabe disso: ela nos dá que falar todos os dias e em uma velocidade espantosa, para que sempre tenhamos a mente ocupada em não pensar, não crescer, não mudar. Nossa mente é gado em confinamento!!!

Tenho uma filha crescendo linda. Espero que quando ela tiver minha idade, esse não seja seu mundo. E nem o que espera a filha (ou filho) que um dia ela terá. Quando vamos nos dar conta de que é preciso efetivamente mudar? Dizer que basta não apenas de futilidades e televisões, mas também de tanto trabalho, tantos celulares e e-mail's, tantas páginas, blogs e pseudo-compromissos criados unicamente para nos manter como seres ocupados e não pensantes. Não posso e não farei nada sozinho... Mas começo a pensar... E quero mudar!  

Tem um texto sensacional da Clarice Lispector que diz isso. Ele se chama Mude. Reproduzo abaixo e espero que gostem. Abraços e bom dia!!!

Sérgio

Clarice Lispector
Mude

Mude,
mas comece devagar,
porque a direção é mais importante
que a velocidade.

Sente-se em outra cadeira,
no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.

Quando sair,
procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho,
ande por outras ruas,
calmamente,
observando com atenção
os lugares por onde você passa.

Tome outros ônibus. Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os seus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.

Tire uma tarde inteira
para passear livremente na praia,
ou no parque,
e ouvir o canto dos passarinhos.

Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas
e portas com a mão esquerda.

Durma no outro lado da cama...
depois, procure dormir em outras camas.

Assista a outros programas de tv,
compre outros jornais...
leia outros livros,

Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.

Aprenda uma palavra nova por dia
numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos,
escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores,
novas delícias.

Tente o novo todo dia.
o novo lado,
o novo método,
o novo sabor,
o novo jeito,
o novo prazer,
o novo amor.
a nova vida.

Tente.
Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações.

Almoce em outros locais,
vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida
compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo,
jante mais tarde ou vice-versa.

Escolha outro mercado...
outra marca de sabonete,
outro creme dental...
tome banho em novos horários.

Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.
Ame muito,
cada vez mais,
de modos diferentes.

Troque de bolsa,
de carteira,
de malas,
troque de carro,
compre novos óculos,
escreva outras poesias.

Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente
esses horrorosos despertadores.

Abra conta em outro banco.
Vá a outros cinemas,
outros cabeleireiros,
outros teatros,
visite novos museus.

Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só.
E pense seriamente em arrumar um outro emprego,
uma nova ocupação,
um trabalho mais light,
mais prazeroso,
mais digno,
mais humano.

Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as.
Seja criativo.

E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa, se possível
sem destino.

Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores
e coisas piores do que as já conhecidas,
mas não é isso o que importa.

O mais importante é a mudança,
o movimento, o dinamismo, a energia.
Só o que está morto não muda!

Repito por pura alegria de viver:
a salvação é pelo risco,
sem o qual a vida não vale a pena! 

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