terça-feira, abril 13, 2010

Portas e caminhos...


Há alguns anos atrás, em meio a uma multidão vi uma porta... Imediatamente, em um segundo, antevi que aquele seria meu caminho. Ou melhor: aquela porta guardava um caminho que poderia me acompanhar pela vida, completo, feliz. Não me importei com as diferenças que haviam entre os caminhos de minha vida e os daquela porta. E, com toda a coragem e vontade do mundo pedi licença e, com muita alegria, ela me foi aberta. Me apaixonei pelo que vi e mesmo pelo caminho que encontrei. Era um caminho que tinha suas dificuldades, que já tinha sido muito difícil, mas isso não me importava e, sinceramente, não me importa até hoje.

Durante algum tempo, fui feliz neste caminho. Mas... Por razões que só a vida após a vida explicará, dias difíceis vieram. Alguns, envolviam outras pessoas que também caminhavam ou caminharam por lá e nestes dias, eu e o caminho estivemos juntos, inclusive evitando que um certo alguém se perdesse. A vida toda vou levar isso comigo. Momentos difíceis nos quais abandonei o meu próprio caminho e somente fui pela porta. O que importava era não deixar esse certo alguém para trás. Depois, já não sei mais dizer a razão, veio a tempestade. O caminho ficou instável e eu também errei e me perdi nele... Resultado: bati a porta, ela bateu em mim e fomos assim, até que ela se fechou de vez.

Atrás daquela porta houve tudo: dias de sol, chuvas fortes, noites sob a lua (literalmente), brisas quentes e ventos frios. Mas, havia sempre, um caminho e luz no horizonte. Mesmo em noites de tempestade, onde o frio, a chuva e o granizo castigavam eu e o caminho, no horizonte existia um sol da meia-noite. Um Norte... Hoje, isso se foi. Sim, tenho minha culpa de abandonar o caminho... De duvidar dele algumas vezes. Achava que tudo tem chances na vida se estamos aqui, vivos para mudar. Mas, estou me rendendo ao inevitável: há vezes em que se morre em vida... Vezes em que devemos deixar parte de nós morrer, até mesmo para nascer de novo. E permitir que aquela parte de nós que deixamos para traz, possa fazer parte de outros.

A porta ainda existe. Continua sendo linda, apesar de só vê-la em minha mente. O caminho existe. Peço a Deus que ele exista ainda por muito tempo, mesmo depois que eu me for desta vida. Seria uma dor indescritível ver o caminho deixar de existir... Só que esta porta não mais será a minha... O caminho não me quer... E eu sei que isso é resultado das minhas escolhas também. Mas, nunca há um só errado na vida. Acredito que nem eu e nem o caminho estamos totalmente certos. Aliás, mais fácil é concluir que ambos erramos. Só que isso não muda o resultado...

O lugar e a multidão onde achei a porta hoje é para mim um lugar triste... Ainda vou lá, mas em todas as vezes procuro uma porta. Não uma porta qualquer... Aquela... Nunca mais a vi. Melhor assim? Sei que existirão outras portas. Pena que sou uma pessoa de poucas portas... Já vivi em lugares e épocas onde havia muitas e eu abria todas. Era jovem, tempo de fazer isso até para aprender que só há valor em seguir um caminho de cada vez. Até o fim... Hoje, penso mais valer a pena nem abrir portas que não permitam antever um caminho por lugares seguros, onde eu possa estar em paz. Não importa o quão bonita seja a porta, em geral volto para casa e para a minha porta interior, sozinho... Não quero qualquer porta... Quero só a minha!!! Seja ela qual for... Não é fácil encontrar um caminho...

Enfim, voltando a esta em especial. Por muito tempo ela esteve entreaberta em meu coração e minha mente, dia-a-dia. Mesmo hoje, vejo uma pequena fresta de onde irradia esta luz que me guia, que me aquece, que ainda me dá forças... Só que não sou mais bem-vindo por esta porta, no caminho que antes era meu. Ao contrário, me é claro o bilhete que diz isso, que vejo cada vez que me aproximo dela. Na verdade, agora que meus olhos estão se acostumando ao escuro, tenho dúvidas se ela está mesmo entreaberta ou se só eu vejo isso. Em alguns dias vai completar-se mais um ano da data em que percebi a existência dessa porta... Hora de fechá-la também em mim...

O caminho não é mais meu. Espero que cuidem dele. Que cuidem da porta... Que mereçam estar do outro lado dela. Vou construir uma parede que não me permita, nem mesmo em mim mesmo, pensar que há a menor abertura nela. Assim não me iludo mais... Assim sigo meu caminho e encontrarei minha porta. Serei feliz... Já pensei que havia uma porta apenas para cada um na vida. Isso quando era jovem demais para perceber que há amor em nós para inúmeras portas pela vida. A questão não é de amor apenas. É de escolha!!! É um conjunto: porta e caminho. Muitas vezes gostamos de um e não do outro e vice-versa.

Vou sempre guardar esta porta e seu caminho em meu coração em um lugar especial. Amores não morrem... Só não podemos deixá-los viver em plenitude. É como um fogo. Uma vez aceso, sempre vai existir. Só devemos abafar as chamas que não fazem parte de nossa vida.

Sempre amarei esta porta!!! Mas, vou respeitar sua existência e opção de estar fechada para mim. Não se arromba portas, não se rouba amores. Se a porta não se abre, não é para ser seu aquele caminho... Sei quando não sou bem-vindo!!!

Sérgio

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