sábado, julho 21, 2012

Novo Batman


Fica a dica de cinema para o final de semana... Novo Batman!!! E que não existam outros loucos fazendo besteira em sessões deste filme. 

Ao longo de 164 minutos de projeção, “Batman: O cavaleiro das trevas ressurge” – terceiro e, tudo indica, último capítulo da franquia dirigida por Christopher Nolan – fornece material merecedor de elogios. É um desfecho honroso para a trilogia, embora inferior ao episódio anterior, que fica sendo o ponto alto da série. O novo filme, que estreia no Brasil no dia 27, não economiza, nem em orçamento nem em disposição, para tentar agradar e oferecer a impressão de que o tema em causa não se limita a uma trama de super-herói. É lícito observar, no entanto, que há arestas por trás dessa aparência – e aparência é essencial, em se tratando do cinema de Nolan, cineasta que há dois anos lançou o chamativo “A origem”. As sequências finais de “O cavaleiro das trevas ressurge” são claro exemplo desse inconveniente. Elas têm bom potencial para comover a grande audiência: há ação, drama, terror, suspense, romance. Faltou, talvez, humor, mas não se pode exigir em excesso de quem pensa já estar dando tudo. Seja como for, é possível que lágrimas ocorram ao espectador sensível. O clímax, então, é digno de elogio e de alguma exaltação – sentidos e sentimentos da plateia estariam, afinal, satisfeitos.

Mas esses mesmos atributos revelam também a carência de confiança por trás da ambição, que não é pouca, de Christopher Nolan. É como se ele pensasse: “Se for para pecar, que se peque por mais, nunca por menos”. Dá-se assim com “O cavaleiro das trevas ressurge”, a começar pela longa duração. Em tese, não há problema, mas, neste caso, o tempo é dedicado a oferecer uma história que nunca se livra da obrigatoriedade das referências. Cardápio de feição contemporânea, a saber: 11 de setembro e protestos em Wall Street e manifestações similares e recentes. Quando se leva a sério demais, o roteiro coescrito por Nolan comete passagens apropriadas a manuais de autoajuda: “Batman, não desista”, “Batman, acredite em si próprio”. E comete repetições, com momentos de giro em falso. No cômputo final, porém, o entrentenimento resulta além da média.

Violência

As ações de “Batman: O cavaleiro das trevas ressurge” começam oito anos após as do filme que o precede. Caído em descrédito e tido como assassino, o herói agora não pode existir, a menos que use sua identidade civil e reclusa, o milionário Bruce Wayne (Christian Bale, melhor que nos episódios pregressos). E sua cidade, Gotham City, vive uma suspeitíssima situação de paz. Isso, até surgir Bane (Tom Hardy, inidentificável, por causa da máscara na boca), um vilão dado a planos populistas, anarquistas e terroristas. Inflamando-se contra “políticos corruptos” e ricos em geral, o sujeito agrega um grupo de revoltosos descontentes e planeja o fim. Por mais que se mencionem o estofo da motivação e, uma vez mais, as tais referências, o tratamento é simplório. Na trama paralela, há a ladra Selina Kyle, ou Mulher Gato (Anne Hathaway, livrando-se dignamente da parte que lhe cabe), um policial diligente (Joseph Gordon-Levitt) e uma executiva entusiasta da energia sustentável (Marion Cotillard). São esses, basicamente, os personagens novos. Dos antigos da saga, prosseguem Lucius Fox (Morgan Freeman), o engenheiro criador dos aparatos e veículos do Batman, o comissário Gordon (Gary Oldman) e o mordomo Alfred (Michael Cane, em atuação um ou dois tons acima do recomendável).

A junção de política, ecologia, segurança pública, insurgência popular e frustração amorosa, tudo em torno de um homem que se veste de morcego, dá prova das aspirações de Nolan: ser mais que seus pares, como “Os Vingadores” e companhia. E ele consegue. Nada de tão novo, aí: o cineasta vinha adotando o procedimento desde “Batman begins” (2005), sua estreia no ramo. De inédito, o que se tem em “O cavaleiro das trevas ressurge” é a insegurança do produto, algo que descamba em didatismos, reviravoltas, música onipresente e reiterações. Há passagens demasiado explicativas, o filme por vezes subestima a própria capacidade de se fazer claro. “O cavaleiro das trevas ressurge” é o mais violento dos “Batmans”. Ou o que mais mostra a violência e a tragédia. Na ânsia de expor seguidamente seus “argumentos”, acaba-se esquecendo de que um efeito nocivo dessa abundância não é a amplificação do envolvimento do espectador, mas a anestesia. É, sobretudo, neste particular que “Batman: O cavaleiro das trevas” (2008) se saía melhor. Porque era mais comedido. E porque tinha o Coringa de Heath Ledger, que bastava e sobrava para cumprir a cota de seriedade e descontrole. Improvável, contudo, que Christopher Nolan não tenha calculado seus riscos. “Batman: O cavaleiro das trevas ressurge” é resultado de um projeto meticuloso. Arriscado, nunca – a não ser aparentemente.

Sérgio

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