sábado, maio 17, 2008

Quase - Luis Fernando Verissimo


Pessoal,

Dias atrás, no mesmo avião que eu, em mais uma dessas andanças do trabalho, estava um homem que admiro. Um escritor que sempre me comoveu. Aliás, sou um felizardo por ter, em um mesmo ano e com diferença de pouco mais de um mês, conhecido dois nomes da literatura nacional. Primeiro, Ariano Suassuna e depois, Luis Fernando Verissimo. Fiz questão de dizer a ele o quanto admiro sua obra. Pessoa de sorriso farto, mas uma certa timidez de modos, agradeceu e desejou a nós dois boa viagem. Tivemos... 

Hoje, em meio a mais uma viagem que é o nosso dia-a-dia, me peguei pensando nele novamente. Tudo porque há um texto no qual ele retrata algo que me acomete de quando em quando, que é o medo das oportunidades perdidas e a certeza que ou vivemos o presente, ou o amanhã pode ser tarde demais. Não é certo confiar que haverá outra oportunidade. Haverá se fizermos que ela exista, mas isso exige decisão, ação, garra e uma boa dose de benção divina que nos permita aquele "assim seja" de um novo dia. E essa parte, não está nas nossas mãos.

Logo, nessa noite fria de sábado, lembrei-me de um dos textos do Luis Fernando Verissimo (chamado Quase) e acho que ele combina com o que estou sentindo hoje. Pena... Enfim, ao menos posso compartilha-lo e esperar que outros, como eu, não vivam assim e possam, enfim, viver colorido. A noite escura é muito ruim...

Ainda pior que a convicção do não, a incerteza do talvez é a desilusão de um "quase". É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. 

Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono. 

Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor, não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. 

A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. 

Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência, porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. 

Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu!!!

Abraços,

Sérgio

Um comentário:

Anônimo disse...

Como sempre você muito sensível... Gostei muito do seu post.
Patty