sexta-feira, setembro 14, 2012

Brazuca...


Também não gostei nem do nome e nem da grafia não ser a da língua portuguesa... Veio da Revista Veja:

A escolha do nome da bola que a Adidas lançará para a Copa do Mundo de 2014 foi feita por votação na internet a partir de uma lista tríplice. Com 77,8% das preferências, Brazuca derrotou Bossa Nova e Carnavalesca. Como quase todos os analistas da língua que estão de plantão esta semana, lamentei a notícia (considerava Bossa Nova o menos ruim de três nomes fracos), mas por motivos diversos. Não é a grafia com z que me incomoda, mas a palavra em si. Convém explicar.

Sim, é verdade que todos os dicionários e o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), da Academia Brasileira de Letras, registram apenas brasuca, com s. Afinal, a palavra não é derivada de Brasil, brasileiro? Eis toda a base para a argumentação dos que implicaram com a grafia. Uma argumentação que deixa de levar em conta dois fatos singelos:

1. A forma brazuca é muito mais usada na vida real. Uma pesquisa no Google traz mais de 4 milhões de páginas, contra pouco mais de um décimo disso para brasuca. Pode-se defender a tese de que a preferência popular não é suficiente para alterar a grafia de um termo do vernáculo, mas atenção: estamos falando de palavra informal, brincalhona, recente. Brazuca é uma gíria, e as gírias, como todas as criações populares, têm a mania de escolher como serão conhecidas.

2. Ainda que não fosse assim, o batismo da bola da Copa do Mundo é um ato de branding, ramo do marketing que tem regras próprias, entre elas a de privilegiar formas gráficas fortes – e nesse mundo a letra z goza de grande prestígio. Naturalmente, a correspondência com a grafia “Brazil” numa marca destinada a ter circulação internacional também deve ter sido considerada um trunfo por seus criadores.

Se não é a grafia, o que sobra para criticar em Brazuca, a bola? Sua carga cultural idiota, só isso. O fato de que, brazuca ou brasuca, a palavra é um sinônimo tolo de brasileiro. O termo nasceu em Portugal com tom depreciativo (o sufixo “uca”, o mesmo de mixuruca, deixa isso claro), numa espécie de contraponto ao nosso “portuga”. Até aí, tudo bem: a própria palavra brasileiro tinha uso pejorativo antes de ser assumida em espírito de desafio pelos nativos desta terra.

O problema é que, ao ser adotado por aqui, brazuca/brasuca virou um clichê patriótico viscoso, folclórico e carregado de autocomplacência, primo da malemolência, da ginga e da incrível musicalidade dos mulatos inzoneiros que habitam este gigante adormecido. É por isso que Brazuca é bola fora – e Brasuca não seria melhor.

Sérgio

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