quinta-feira, novembro 26, 2009

Natal 2009

Pessoal,

Para mim, já é Natal. É a época do ano que mais gosto. Aproveitei a Stella (minha filha, que fará sete anos nesse sábado, dia 28) para montarmos nossa árvore. É sempre ela, desde os dois anos, que coloca a estrela em cima da árvore. Uma "tradição" familiar, rsrsrs Adoro tradições... Sempre que posso, crio uma para eu e minha filha. Busco os laços especiais que isso cria entre nós. Embaixo da árvore está a Banda do Papai Noel, um conjunto que a Stella ganhou três anos atrás e que toca músicas de Natal em conjunto. Ela fala da bandinha o ano inteiro, esperando para vê-la nesta época, rsrsrs. Para todos vocês, desde já, desejo um Natal iluminado, feliz, especial. Um Natal como o que Carlos Drummond de Andrade descreve no poema abaixo...

Abraços,

Sérgio

O Natal de Drummond
Carlos Drummond de Andrade

Alguém observou que cada vez mais o ano se compõe de 10 meses;
imperfeitamente embora, o resto é Natal.
É possível que, com o tempo, essa divisão se inverta:
10 meses de Natal e 2 meses de ano vulgarmente dito.
E não parece absurdo imaginar que, pelo
desenvolvimento da linha, e pela melhoria do homem,
o ano inteiro se converta em Natal, abolindo-se a era
civil, com suas obrigações enfadonhas ou malignas.
Será bom.

Então nos amaremos e nos desejaremos felicidades
ininterruptamente, de manhã à noite, de uma rua a
outra, de continente a continente, de cortina de ferro
à cortina de nylon - sem cortinas.
Governo e oposição, neutros, super e subdesenvolvidos,
marcianos, bichos, plantas entrarão em regime de fraternidade.

Os objetos se impregnarão de espírito natalino,
e veremos o desenho animado, reino da crueldade,
transposto para o reino do amor: a máquina de lavar
roupa abraçada ao flamboyant, núpcias da flauta
e do ovo, a betoneira com o sagüi ou com o vestido de baile.

E o supra-realismo, justificado espiritualmente,
será uma chave para o mundo.

Completado o ciclo histórico, os bens serão
repartidos por si mesmos entre nossos irmãos,
isto é, com todos os viventes e elementos da terra, água, ar e alma.
Não haverá mais cartas de cobrança, de
descompostura nem de suicídio.

O correio só transportará correspondência gentil,
de preferência postais de Chagall, em que noivos e
burrinhos circulam na atmosfera, pastando flores;
toda pintura, inclusive o borrão, estará a serviço
do entendimento afetuoso.
A crítica de arte se dissolverá jovialmente,
a menos que prefira tomar a forma de um sininho
cristalino, a badalar sem erudição nem pretensão,
celebrando o Advento.

A poesia escrita se identificará com o perfume
das moitas antes do amanhecer, despojando-se
do uso do som. Para que livros?
perguntará um anjo e, sorrindo, mostrará a terra
impressa com as tintas do sol e das galáxias,
aberta à maneira de um livro.

A música permanecerá a mesma, tal qual
Palestrina e Mozart a deixaram;
equívocos e divertimentos musicais serão
arquivados, sem humilhação para ninguém.

Com economia para os povos desaparecerão
suavemente classes armadas e semi-armadas,
repartições arrecadadoras, polícia e fiscais de toda espécie.
Uma palavra será descoberta no dicionário: paz.

O trabalho deixará de ser imposição para constituir
o sentido natural da vida, sob a jurisdição
desses incansáveis trabalhadores, que são os lírios do campo.

Salário de cada um:
a alegria que tiver merecido.
Nem juntas de conciliação nem tribunais de
justiça, pois tudo estará conciliado na ordem do amor.

Todo mundo se rirá do dinheiro e das arcas que
o guardavam, e que passarão a depósito de doces,
para visitas. Haverá dois jardins para cada
habitante, um exterior, outro interior,
comunicando-se por um atalho invisível.

A morte não será procurada nem esquivada,
e o homem compreenderá a existência da
noite, como já compreendera a da manhã.

O mundo será administrado exclusivamente pelas
crianças, e elas farão o que bem entenderem das
restantes instituições caducas, a Universidade inclusive.

E será Natal para sempre.

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