Isso é Brasil, de ponta a ponta... Se é isso no alto, imaginem os fios embaixo da terra. Por isso voa tampa de bueiro no Rio. Matéria G1:
Quem vê de longe pode até pensar se tratar de um ninho de pássaro. Mas basta chegar um pouco mais perto e a imagem bucólica no alto dos quase 500 mil postes do Rio se transforma num emaranhado de fios e cabos de concessionárias de serviços de energia, de telefonia e de TV a cabo. Além de poluir a paisagem, a embolação de fios dá um aspecto de entrada de favela a áreas nobres da cidade e quando arrebentam - com ventanias, quedas de árvores e postes – coloca em risco a integridade de pedestres. “É um horror! Tem lugar que tem tanto fio enrolado, que de longe a gente tem a impressão que tem uma roda de caminhão pendurada no poste. Parece a favela de Rio das Pedras”, reclama a dona de casa Aline Araújo, moradora de São Cristóvão, na Zona Norte, ao apontar um poste na Rua Melo e Souza. Em setembro 2011, o prefeito Eduardo Paes, assinou decreto regulamentando o uso da rede aérea para proteger a paisagem urbana e acabar o com o excesso de fios e postes fora do padrão, na cidade. De acordo com o documento, as concessionárias de serviços de energia, telefonia, TV a cabo e transmissão de dados têm até fevereiro de 2016 para embutir a rede aérea e mudar os postes.
O mesmo documento dizia que o trabalho começaria pelas principais ruas de Botafogo, Humaitá, Jardim Botânico e Rua Marquês de São Vicente, na Gávea, na Zona Sul do Rio. Seis meses após a publicação do decreto, a fiação deveria estar embutida e postes mal conservados substituídos. Mas quase dois depois, a situação dos postes destas ruas não mudou. “Onde teve projeto de urbanização não tem mais fios embolação. Mas na Rua São Clemente, tem lugares que é um vexame. A gente fica com medo de esbarrar num fio partido e levar um choque, ser eletrocutado. Ou até se machucar ao tropeçar num fio caído. O mais estranho é que se está partido e todo mundo tem luz, telefone e internet em casa, é sinal que esse fio não presta mais para nada”, observa a auxiliar administrativa Sara Jane de Almeida, moradora de Botafogo. A Secretaria de Conservação e Serviços Públicos (Seconserva), que deve fiscalizar a aplicação do decreto, informa que o trabalho está em andamento, prioritariamente em áreas referentes aos projetos olímpicos e no Porto Maravilha. Diz ainda que para reduzir os problemas de remanejamento do cabeamento para o subsolo, será implantado um Sistema de Gestão de Obras em Vias Públicas (Geovias), ou seja, uma base de dados sobre as redes do subsolo da cidade.
Enquanto isso, a bagunça se repete em todos os pontos da cidade. Em Campo Grande, na Zona Oeste, um fio partido está bem no meio da ciclovia. No Rio Comprido, na Zona Norte, estão cada vez mais baixos. Na Avenida Marechal Rondon, no Rocha, no Subúrbio, estão pendurados bem próximos de uma escola pública. Na Avenida Borges de Medeiros, na Lagoa, na Zona Sul, os cabos estão caídos perto de um ponto de ônibus. Segundo o superintendente de serviço de campo da Light, Dalmer Souza, o risco de choque com um fio partido da rede elétrica existe, mas é mínimo. Segundo ele, os fios de alta e média tensão da concessionária passam pela parte mais alta dos postes e têm de ficar esticados e sem sobras nos postes. Mesmo os cabos da rede de baixa tensão ficam esticados. “Não há riscos de choques com fios da Light. O problema acontece com ligações clandestinas, que não têm cabos isolados, como os nossos. Quando nossos fios se rompem, são automaticamente desarmados pelo sistema de segurança”, explica Dalmer, acrescentando que a Light tem 600 mil postes e 40 mil quilômetros de rede aérea nas 31 cidades que abastece no estado do Rio. Cerca de 70% da rede está na Região Metropolitana do Rio.
O superintendente diz que a obrigatoriedade de embutir todos os fios até 2016 está sendo estudada pelo departamento jurídico da Light. Ele destaca que até em cidades de primeiro mundo como Nova York e Paris há postes e fios pelas ruas. E que contra a rede subterrânea, que é mais sofisticada e segura recai o custo elevadíssimo de sua implantação. “Seria o ideal ter a rede totalmente subterrânea. Não teríamos problemas com ‘gatos’, pipas, balões, árvores ou acidentes que derrubam postes. Mas a implantação é oito vezes mais cara que a malha aérea e o custo refletiria na tarifa de energia. Embutir toda a fiação do Rio é inviável. Só mesmo a pedido de clientes, que pagam por esse serviço e quando há obras de urbanização, como o Porto Maravilha. Mesmo assim, temos 5,5 mil quilômetros de malha subterrânea, a maior do Brasil”, destaca Dalmer. O Rio luz, responsável pela iluminação de ruas e parques da cidade diz que 25% de sua rede são subterrâneos, o que inclui bairros da Zona Sul (Leblon, Copacabana, Lagoa e Ipanema), Barra da Tijuca, Centro e principais avenidas das zonas Norte e Oeste. Ou seja, cerca de cinco mil quilômetros de fios passam sob as ruas da cidade. O restante está espalhado por 40 mil postes próprios e por outros compartilhados com a Light. E, através de sua assessoria, garante: a empresa não deixa sobra de fios nos postes. O emaranhado de fios embolados ou partidos é em sua maioria de concessionárias de telefonia e TV a cabo.
A concessionária de telefonia Oi limita-se a dizer que já vem atendendo ao que está disposto no decreto municipal de 2011. Também não dá informações sobre sua rede, alegando se tratar de dados estratégicos. E não fala sobre os cabos partidos e o emaranhado de cabos pela cidade. Já a Net, uma das principais concessionárias da TV a cabo da cidade, diz que sua rede faz uso compartilhado dos postes já existentes. A empresa admite que a maior parte da rede é aérea, pois os custos de implantação e manutenção da rede subterrânea, como já existente na orla da Zona Sul, são muito elevados. Quanto às sobras de fios, a chamada reserva técnica, a empresa “adota projetos e normas, utilizando um único ponto de fixação nos postes". Entre eles, um equipamento semelhante a um carretel, que organiza melhor os fios.
Sérgio
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