quinta-feira, outubro 22, 2009

Recomeço


Tratamos começo, meio, fim e recomeço como algo inesperado, mas nada é mais constante na jornada humana. Sempre que pensamos terminar alguma coisa, iniciamos outra. Acredito não existir vácuo entre o término e o início.

No começo tudo se resume a motivação e expectativas. Interagimos com o mundo e os seus atores com leveza e crença. Então, começamos a questionar e a duvidar. Chamamos a superação desses questionamentos e dúvidas de aprendizado.

Considero essa fase como sendo a mais incrível das nossas vidas. Tudo se apresenta como novo e desafiador. Planejamos e agimos pensando em benefícios futuros, que podem ou não acontecer. Temos que acreditar que nossas expectativas se confirmarão. É isso que nos provê a vontade e esperança para prosseguir.

Lembro-me de uma estória que ouvi na infância. Nela um matuto plantava uma árvore que daria o seu primeiro fruto 20 anos depois. Quando questionado da validade daquele gesto por um amigo, o tal matuto respondeu que a partir daquele momento faltaria menos tempo para saborear o fruto.

No meio temos a possibilidade de reavaliar nossos objetivos, o que normalmente não fazemos. Abraçamo-nos tão forte com nossas convicções que não conseguimos abandoná-las facilmente. Seguimos na busca daquilo que acreditamos desejar.

No fim começamos a perceber que teremos que lidar com as nossas frustrações. Não podemos ligar os pontos (erros e acertos) olhando para o futuro. Só podemos fazê-lo vendo o passado. Fazemos escolhas que não tem um resultado imediato, mas os seus efeitos se evidenciam depois.

Tão certo quanto isso é a resistência que temos ao menor sinal de mudança. Resistimos porque é mais confortável permanecer onde estamos ao ter que trocar essa condição pela incerteza. Se nos fosse dada a opção, é provável que tivéssemos escolhido ficar na segurança e conforto do útero materno a ter nascido.

Para nossa sorte opções assim não nos são oferecidas. Por melhor que seja a vida uterina, ela tem limite de tempo definido, assim como na vida temos o seu limite - a morte. Mesmo que nossa crença nos faça não temê-la, não queremos morrer.

Por toda vida procuraremos pela sensação de segurança. Essa sensação gera certezas que podem nem de fato existir. Ter segurança é uma necessidade humana apenas superior as necessidades fisiológicas como propõe o psicólogo americano Abraham Maslow. Acima delas estão as necessidades sociais, auto-estima e no topo da Pirâmide de Maslow encontramos a auto-realização. Dessa perspectiva, chegar ao topo não é uma escalada, mas uma construção iniciada da sua base.

O recomeço é uma verdade evidente e negá-lo tem o mesmo efeito de ser contra a lei da gravidade. Embora possamos fazê-lo, nada muda. Vejo-o como oportunidade de evitar erros e cometer outros, de ter e repetir acertos e de novos aprendizados.

Penso que o recomeço seja como viajar numa estrada já conhecida por onde já passamos com pressa sem ter prestado atenção nas paisagens e sinalizações. Por mais longa que pareça essa viagem, ela começa com o primeiro passo. Enquanto ele não for dado, permanecemos no mesmo lugar.

Pessoalmente, concordo com Steve Jobs, CEO da Apple e Pixar (a dos desenhos animados), que diz que no recomeço o peso de ser vitorioso é substituído pela leveza de ser novamente um iniciante. Devemos apreciar melhor a paisagem e observar mais as sinalizações ao longo da estrada. Pode ser que alguma paisagem nos interesse mais e ou ainda que alguma sinalização nos leve para outro destino.

Nunca é tarde... Melhor (re)começar agora!!!

Sérgio

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