segunda-feira, outubro 11, 2010

Street View no Brasil


Pessoal,

O Google Street View chegou ao Brasil no final de setembro, trazendo fotos de 51 cidades brasileiras. Mas, um detalhe: o serviço que chega ao Brasil não é o mesmo que foi lançado pelo Google em 2007.  Saiba mais nessa reportagem do G1, extraída da coluna Segurança para o PC, de Altieres Rohr. Em cada local do mundo que foi lançado, o Street View teve problemas peculiares que foram moldando o serviço para o que acabou de chegar ao Brasil – um serviço muito mais seguro e preocupado com a privacidade do que era quando foi lançado.

O serviço foi disponibilizado ao público em 2007, mas não tinha, inicialmente, os recursos que borram rostos e placas de carro, o que gerou muitas reclamações. Cidades norte-americanas pediram ao Google para serem removidas e ele as removeu. Da mesma forma, removeu fotos de instalações militares e de diversos outros prédios. Aqui no Brasil, algumas fotos também já foram removidas, seja por retratarem pessoas seminuas ou mortas.

No Canadá, o problema foi diferente. À época em que as imagens foram tiradas, as cidades estavam cobertas de neve. Os canadenses entenderam que isso não era uma representação fiel da cidade – que “o melhor” do Canadá não estava representado. O Google tirou novas fotos, dessa vez em outro período do ano. Apesar de tirar apenas fotos de locais públicos, o ponto de vista do Google é um pouco mais privilegiado. Em alguns locais, as câmeras altas do Street View “viram” por cima de muros e até dentro das casas, o que levou o Google a tirar novas fotografias de um ponto de vista mais baixo. Mas a maior resistência tem sido na Europa. O Street View foi banido na República Tcheca. Na Alemanha, o governo obrigou o Google a acatar uma lista prévia de pessoas que não querem ter suas casas fotografadas. Algumas entidades sugeriram que o sistema fosse opt-in, ou seja, que o Google não pudesse fotografar ninguém até que obtivesse permissão. Mas o governo decidiu pelo sistema opt-out, no qual apenas quem não quer as fotos deve se manifestar.

Por causa das preocupações com o Street View, o governo Alemão agora está sugerindo que empresas redijam e respeitem um código de privacidade para se autorregulamentar. O serviço ainda não foi lançado no país; os alemães têm até o final desta semana para pedirem ao Google que suas casas não sejam fotografadas. “Centenas de milhares” de habitantes do país já teriam feito isso. Na Alemanha, cada estado tem um responsável pela privacidade dos cidadãos, uma consequência do regime nazista pelo qual o país passou. A União Europeia solicitou ao Google que as fotos originais não fossem armazenadas por mais de 6 meses. De acordo com o Google, isso não é possível, porque leva muito tempo para processá-las e borrar os rostos e placas – em outras palavras, cumprir as outras exigências de privacidade que têm sido impostas. A empresa afirma que a viabilidade do serviço estaria sendo questionada devido à regulamentação. “Normalmente leva muitos meses entre a captura das fotos e a disponibilidade delas no Google Maps”, disse Daniel Helft, diretor de comunicação, políticas e assuntos públicos do Google para a América Latina.


Acusado de facilitar o crime, o serviço vira ferramenta da polícia. Para Helft, o Street View tem diversas utilidades – desde planejar um jantar e uma reunião, até verificar a vizinhança de uma casa nova, além de explorar localidades turísticas. “O Street View teve um grande impacto no uso do Google Maps em todos os lugares em que está disponível”, disse o executivo, em uma entrevista exclusiva concedida por e-mail ao G1. Quanto às questões de privacidade, o executivo destaca que o Street View apenas fotografa locais públicos. “As imagens são lícitas. Não são diferentes do que qualquer pessoa pode facilmente capturar andando pela rua. Imagens desse tipo estão disponíveis em vários formatos e para cidades de todo o mundo”, disse Helft.


Nos países em que o serviço causou polêmica, entidades preocupadas levantaram a hipótese de que o serviço poderia ser usado para planejar assaltos e sequestros. “Dizer que o Street View facilita o crime é como culpar a indústria de automóveis por crimes porque criminosos usam carros para fugir”, disse o executivo. “Quando falamos com a polícia do Reino Unido, eles disseram não ver nenhuma evidência para que o Street View aumentasse o crime. Na verdade, eles acreditam que o mapeamento pode aumentar a informação sobre a criminalidade e ajudar as pessoas a prevenir os problemas”. E, segundo Helft, o Street View foi usado pela polícia para combater o crime. “Polícias nos Estados Unidos usaram o Street View para localizar uma criança sequestrada. Na Austrália, usaram para mostrar o local de um crime e pedir testemunhas”, contou. “Respeitamos o fato de que algumas pessoas não querem alguns tipos de imagens no serviço e oferecemos ferramentas de fácil acesso para marcar conteúdo impróprio ou sensível para ser revisado e removido”.


O Brasil carece de legislação específica sobre privacidade. Segundo o advogado especializado em tecnologia, Omar Kaminski, tudo o que existe no país é uma disposição genérica na Constituição Federal e uma regra para uso de imagem no Código Civil. Mas o advogado se preocupa com os constantes ataques à privacidade das pessoas. “Constantemente nos deparamos com "a próxima onda" - o que mais vão inventar até que não sobre quase nada para catalogar ou devassar? "1984" [obra de George Orwell que criou o conceito de “big brother”] não era para ter sido um manual de instruções... Está se criando uma espécie de socialismo virtual, onde teoricamente todos podem e querem saber de tudo, a todo momento”, opina Kaminski. O advogado lembra que, como em outros países, há um recurso fácil para solicitar a revisão de fotografias, como disse o executivo do Google. O Brasil é, aliás, o país que mais solicita a remoção de conteúdo em serviços do Google. Mesmo assim, Helft está otimista quanto a disponibilidade do serviço no país. “Esperamos que os brasileiros apreciem e aproveitem a grande funcionalidade do Street View com os outros internautas ao redor do mundo”, disse.

Sérgio

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