sexta-feira, maio 03, 2013

Somos tão jovens


Hoje estréia um filme sobre Renato Russo. Veja uma crítica abaixo. Particularmente, já estou "acostumado" aos reviews negativos de críticos de cinema que "sabem tudo". Vale a pena ver sim, vejam o trailer acima! Veio do G1:

Como muitos filmes sobre artistas que deixaram um legado conhecido, "Somos tão jovens" - longa sobre Renato Russo, vocalista do Legião Urbana, morto em 1996 - tenta decifrar o artista em questão por meio de sua obra. É uma opção arriscada, e que raramente funciona. O próprio título do longa - extraído de um verso da canção "Tempo perdido" - já deixa claro que se vai ver o Renato Russo conhecido, roqueiro, figura melancólica e irônica que nos anos de 1980 saiu de Brasília para ganhar o país. Nesse sentido, o longa de Antonio Carlos da Fontoura ("Rainha diaba", "Gatão de meia idade") funciona até certo ponto, na medida em que coloca em segundo plano o ser humano para se centrar na formação do ídolo. O roteiro escrito por Marcos Bernstein até resiste um pouco à tentação de seguir para esse lado, mas no momento em que Renato Manfredini Júnior (interpretado por Thiago Mendonça, que, aliás, canta em cena) solta a voz, o filme não resiste, e se transforma em retrato do artista enquanto jovem e deprimido. O desenvolvimento da cena roqueira de Brasília ao final da década de 1970 e nos anos de 1980 serve como um pano de fundo - afinal, não teria como fugir do tema. Esse ambiente, assim como o próprio Renato Russo, foram abordados num documentário premiado de Vladimir Carvalho, "Rock Brasília - A era de ouro" (2011), que explora com profundidade e raras cenas de arquivo momentos que são basicamente apenas citados nesta ficção.

Longe do didatismo, "Somos tão jovens" não se esquiva de abordar um pouco mais claramente a sexualidade de seu personagem - ao contrário, por exemplo, de "Cazuza". Uma vez que o pai (Marcos Breda) e a mãe (Sandra Corveloni) fazem quase figuração em personagens sem qualquer profundidade, a figura mais próxima de Renato é Ana (uma impressionante Laila Zaid), com quem o músico vive uma relação ambígua, uma grande amizade, um amor silencioso, meio platônico. Mas a paixão mais forte de Renato é por Flávio Lemos (Daniel Passi), seu colega na banda Aborto Elétrico, a quem ele teme se declarar. Sutilmente, o entorno sócio-político da época se insere em "Somos tão jovens". São situações quase banais, mas que denunciam o Brasil de então - como a cena em que Renato, Ana e outros amigos são parados por uma blitz e liberados porque ela é filha de militar. Momentos como esse servem para não apenas situar a trama, mas também contextualizar o clima em que surgiram bandas como o Aborto Elétrico e, mais tarde, Legião Urbana e Capital Inicial.

Thiago Mendonça que, em 2005, viveu o sertanejo Luciano em "2 filhos de Francisco" é competente como Renato Russo - e isso não tem nada a ver com cantar ou falar parecido, pois neste sentido trata-se de técnica. O grande mérito do ator é tentar entender a sensibilidade de uma pessoa que compôs versos como "Será que é tudo isso em vão? Será que vamos conseguir vencer?". "Somos tão jovens" não esconde que é um filme para fãs de Renato Russo. Não traz nenhuma novidade, conta algumas histórias conhecidas e deixa de fora outras tantas - novamente, vide "Rock Brasília". No fundo, é um filme bem convencional ao falar de um músico que pregava a transgressão, dizendo: "Somos os filhos da revolução, somos burgueses sem religião".

Sérgio

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